Quanto custa um bom aluno?


Quanto custa um bom aluno?




O Espírito Santo deve adotar o sistema de compensação econômica para os professores que conseguirem melhorar o desempenho de alunos e instituição de ensino. Nada de novo nesse processo. Nas instituições privadas, o professor que não agrada os alunos, que é rígido na cobrança do estudo (notas baixas), ou mesmo que não é dedicado, é retirado do jogo. E na instituição pública, como é avaliado o professor?

Discutir os rumos da educação é uma tarefa complexa e cheia de possibilidades. Primeiramente, é fundamental considerar a importância dada à formação escolar. Neste país, educação é sinônimo de emprego bom. Isso por si só leva as crianças à escola. E o que garantirá o bom desempenho desta criança? Pronto, a confusão está formada, justamente porque a educação, no Brasil, tem classe social. Ou seja, a instituição privada de ensino vende um produto, enquanto as públicas prestam serviço. Nesse caso, a desigualdade de gerenciamento gera a pirâmide social da educação.

Oferecer grana aos professores que se empenharem mais é um erro. Claro que um erro estrategicamente construído. Afinal, é uma forma de se dizer que está se fazendo algo pela Educação. A sociedade adora esse tipo de ação. Mas a questão é: há garantias na melhoria do aprendizado? Estou certo de que não. E não estou aqui lançando olhar pessimista, longe disso. Na verdade, preocupa-me o fato de comercializar a dedicação. A consciência do educador engajado não tem preço. Ou tem?

O que fica em segundo plano é a construção do conhecimento. E nesse caso é fundamental perceber que o professor é um orientador. O aluno precisa querer – já pensou pagarmos aos alunos pelo bom desempenho? Esse é um caminho perigoso. Aliás, é o caminho construído pelas instituições de ensino privado. Os bons alunos recebem benefícios como bolsas de estudo. Uma espécie de honra ao mérito.

Considerar esse conceito comercial como possibilidade de melhoria no desempenho dos alunos da rede pública é descaracterizar o papel de integrador social que a Educação deve exercer. É construir disputas entre escolas; é promover uma corrida para as escolas com o melhor desempenho; é um atestado de incompetência. É tudo isso misturado ao que se espera do aluno. Não vai dar certo. Estão mirando no alvo errado. O bom desempenho escolar está no que se quer com o que se ensina. Basta analisar a construção curricular brasileira para confirmar o caos: há conteúdos em demasia e quase nada de cidadania. Escola precisa formar cidadãos.

Aí sim, acredito que valeria a pena. Avaliem a contribuição da escola para a comunidade e não para o resultado de uma parcela de alunos. A escola deve ser construtora, e não avaliadora. Ao contrário, avaliem as escolas.

Nesse cenário de programa de auditório (“quem quer dinheiro?”), esse “empenho” mascara a realidade marcada por diretores que desviam verbas da merenda escolar e por um sistema de cotas que não integraliza o ensino. Nada contra a política de inclusão no ensino superior. Mas onde estudaram os alunos aprovados pelas cotas? Esse dado já poderia denunciar questões óbvias, mas que, como quase tudo neste país, fica sem debate. Para ilustrar, peguem o resultado de cursos como medicina, direito e as engenharias, e conformem as evidencias. A maioria estudou em escolas públicas, mas freqüentaram cursinhos nas escolas de ponto em Vitória como bolsistas. Muitos são do projeto Universidade para todos, que já é uma peneira. Muitos outros são alunos do CEFETES, que também tem prova de acesso.

Onde estão os alunos das áreas mais carentes? Que resultado o sistema de cotas denuncia? Quanto será oferecido ao professor pelo bom desempenho? Fica esquecida a pergunta crucial: quanto custa um aluno que quer aprender?

Enfim, enquanto a moeda de troca for o dinheiro e não a sociedade, o ensino superior será uma loteria acumulativa. Ou seja, o curso é escolhido pelo status e pela condição econômica que poderá oferecer no futuro. Educação no Brasil é isso. O resto é tudo mentira.

FDE – Criar um método pedagógico para ajudar crianças e adolescentes que sofreram traumas causados pela convivência diária com a violência e que, por isso, tiveram problemas de aprendizagem, como dislexia, agravados. Este foi o desafio enfrentado pela doutora em filologia e lingüística Yvonne Bezerra de Mello, que desenvolveu o método Uerê-Mello, aplicado no Projeto Uerê, escola de tempo integral sem fins lucrativos da cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Quanto vale em grana o esforço e desempenho de Yvonne Bezerra?





Publicado por Folha Vitória